Os últimos dois anos foram extraordinários para as startups brasileiras. Desde 2018, 12 empresas atingiram o valuation de US$ 1 bilhão, conquistando assim o cobiçado status de unicórnio.
O ano de 2020 começou promissor. Em janeiro, a Loft, uma empresa que compra, reforma e vende apartamentos em 18 bairros de São Paulo, recebeu um investimento de US$ 175 milhões e se juntou ao seleto grupo.
Diante disso, havia grandes expectativas de que o crescimento continuasse ao longo do ano. Entretanto, as crises globais levantaram preocupações entre investidores, e algumas empresas podem levar mais tempo para alcançar esse status. Por outro lado, especialistas acreditam que a desvalorização do real pode tornar o Brasil mais atraente para investidores internacionais.
Com isso em mente, a CNN Brasil Business consultou o relatório Corrida dos Unicórnios, elaborado pela Distrito, uma plataforma de inovação que conecta startups, empresas e investidores, para prever quais empresas nacionais têm potencial de alcançar esse novo patamar. Gustavo Gierun, responsável pela elaboração do documento, explica o processo de seleção.
“Utilizamos mais de 60 variáveis. Avaliamos os fundadores e sua formação, o tamanho do mercado, o número de funcionários, o tráfego do site e as rodadas de investimento. A partir desses dados, desenvolvemos um algoritmo que gera um resultado puramente baseado em informações”, explica.
Manoel Lemos, sócio da Redpoint eventures, também faz previsões sobre as áreas mais promissoras para o futuro. “O mercado de hoje é muito diferente do que era há cinco anos. As empresas estão mais estruturadas, com mais participantes e maior conhecimento. Estamos focando em startups de saúde e educação, que apresentam muitas ineficiências e espaço para crescimento”, defende.
Além disso, foram ouvidos especialistas da área, como representantes de fundos de investimento, investidores anjo e professores especializados em inovação e empreendedorismo.
Aqui estão as apostas:
**Buser**
Considerada a “Uber” das viagens intermunicipais, a Buser foi fundada por Marcelo Coelho e Marcelo Vasconcelos em 2017 e, após enfrentar problemas regulatórios, teve um grande crescimento. “O Brasil enfrenta sérios desafios na área de transportes. Embora o transporte rodoviário não seja o mais rápido, a Buser conseguiu agregar valor por meio da qualidade dos ônibus e preços acessíveis”, afirma Calixto, da FGV. A empresa recebeu um investimento superior a R$ 300 milhões em 2019 e conta com o Softbank entre seus investidores.
**Cargo X**
Fundada em 2013 por Federico Vega, a Cargo X enfrenta um dos principais problemas do transporte brasileiro, atuando como uma transportadora que conecta empresas a caminhoneiros utilizando tecnologia avançada. O destaque em 2020 se deu pela expansão em duas áreas: marketplace e serviços financeiros. “Cresceu porque o fundador possui uma estratégia coerente e entendeu as necessidades logísticas, ampliando seu modelo de negócios”, explica Cyntia Calixto, professora do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV.
**Creditas**
A Creditas, uma fintech especializada em empréstimos, foi criada em 2012 pelo espanhol Sergio Furio. Seu diferencial está em oferecer produtos garantidos por imóveis ou veículos. “Eles não reinventaram a roda, mas aproveitaram um nicho que os grandes bancos ignoram: pequenas pessoas físicas em busca de empréstimos”, afirma Renato Mendes, professor de pós-graduação do Insper e cofundador da Orgânica, uma consultoria que acelera e investe em startups. Em julho de 2019, a empresa obteve um investimento de US$ 231 milhões, aproximando-se do status de unicórnio.
**Neon**
Fundada em 2014 por Pedro Conrade, a Neon Pagamentos é uma fintech bem posicionada no mercado nacional. Embora tenha enfrentado dificuldades em 2018, quando o banco passou por liquidação extrajudicial, a empresa se recuperou com a ajuda do Banco Votorantim. Em novembro de 2019, recebeu um investimento de R$ 400 milhões, consolidando sua posição. “Uma empresa pioneira que quase faliu, mas conseguiu se reerguer, está crescendo rapidamente e atraindo muitos clientes”, afirma Mendes, do Insper e da Orgânica.
**Resultados Digitais**
Criada em Florianópolis em 2011, a Resultados Digitais encontrou um nicho crescente no marketing digital. Seu principal produto, o software RD Station, atende pequenas e médias empresas, ajudando na aquisição e retenção de clientes online. A empresa também organiza o RD Summit, um importante evento na área. Em 2019, recebeu um aporte de R$ 200 milhões, liderado pelo fundo norte-americano Riverwood Capital. “A RD está bem posicionada por atender uma demanda de mercado e criar uma rede forte na América Latina”, comenta Marcelo Nakagawa, professor de inovação e empreendedorismo do Insper.
Outras empresas mencionadas pelos especialistas incluem PicPay, Cashme, Semantix, Fazenda Futuro, Pipefy, Conta Azul, Dr. Consulta, MadeiraMadeira, Olist e VTEX.